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sábado, novembro 03, 2001


Eu vi, com os meus próprios olhos, com esses olhos que um dia a a terra há de comer, expressão mais do que cabível já que ontem foi mesmo o Dia de Finados. Eu vi o programa casa dos artistas e confesso que fiquei totalmente presa à tv, inerte refém, sem a menor condição de mudar de canal.

Aconteceu comigo o mesmo fenômeno que experimentei da primeira vez que vi um reality show, na Holanda, pela Internet. Não sei dizer quem foi que recomendou, mas acho que foi uma nota que li em algum grupo de discussões sobre a web. Logo depois, eu estaria ali, adita, viciada, assistindo diariamente aquele grupo de holandeses trancados o dia todo dentro de uma casa longe de Amsterdã.

Contei para o meu marido e também ele começou a assistir e acompanhar a vida real daquela gente. Lembro claramente do dia em que vi um dos rapazes, tirando a mesa e lavando toda a louça, com precisão cirúrgia, tendo o cuidado, inclusive de ferver um chaleira com água para dar o toque final de assepsia à pia.

Algumas semanas depois, a Veja fez uma matéria sobre o programa. Não causou nenhum furor na ocasião mas, já que ninguém acreditava em mim e minha sensação de ter redescoberto a comunicação, muni-me da publicação para dividir a descoberta com o mundo. O mundo não estava com vontade de dar atenção ao programa Big Brother, esse era o nome, e eu então, voltei para meu mundo pessoal, este, que divido através do farofa.

Passei a acompanhar os programas Big Brother em vários países europeus, incluindo Portugal, Espanha, sempre sentindo o poder deste novo formato de programa. Os Estados Unidos chegaram com atraso, mas, como sempre, fazendo barulho.

E como o Brasil tem o hábito de copiar os EUA, só então caiu a ficha sobre o sucesso da novidade.

Surgiu o No Limite e as várias tentativas de criar casas com gente permanentemente monitorada do lado de dentro. Depois, a Globo comprou os direitos de produção do Big Brother brasileiro e, como fez também com tantos outros produtos como Betty La Fea, novela mexicana que causou comoção nacional, engavetou-o. É o famoso não basta eu ter: é preciso que ninguém mais tenha o que eu posso ter.

Na carteira de clientes dos Reality Shows, temos também os filmes como Ed TV e outros quetais. E a realidade, implacável como sempre, solapou a todos nós. Reality show, não dá pra não ver.

E há poucos dias, Silvio Santos então lançou o seu Casa dos Artistas e começou todo o processo que acompanhamos agora.

Pois ontem, vendo o programa, vendo o Supla, de uma forma tão honesta dizendo que ía embora porque, de fato, não tinha nada a ver com aquilo tudo, fiquei pensando. Não vai dar pra manter esse formato exclusivo. Seria como se hoje, alguém registrasse o formato novela e ninguém mais pudesse produzir ficção. Ou se alguém registrasse o formato telejornal com casal de apresentadores, ou quizz show.

É uma onda e é diferente de Os Normais, que não é uma idéia original, mas é um seriado genial.A impressão que me dá é que o episódio inteiro saiu da cabeça do Luis Fernando Veríssimo. Tudo é a cara dele, o jeito dele. Ontem, vi algumas coisas tão divertidas que fiquei louca pra saber quem de fato, inventou aquilo, se o autor, a autora, o ator, a atriz, o diretor. Seja como for, a equipe toda está de parabéns . Os Normais de ontem, foi muito,muito engraçado.

Tinha uma mistura do jeito de tratar sexo do seriado americano Sex and The City , misturado com as tolices delicosas de Seinfeld e situações de Friends e outros quetais. Mas o resultado é totalmente original, divertido, maravilhoso. Eventualmente tem alguma coisa que eu não gosto, acho que sem graça, mas é só um detalhe pessoal. A série é ótima e merece virar griffe, com direito a produtos como canecas, camisetas, bonés, do jeito que os americanos fazem.

E mesmo sem poder comparar, tem algo no humor sexualizado de Os Normais, com eventuais baixarias engraçadas, que eu também vi no Casa dos Artistas. ATirem pedras, se quiserem, mas eu ri muito com o absurdo dito por Alexandre Frota, bem baixinho, mas ainda assim captável pelos microfones e audível para os telespectadores. Quando uma moça folgou com ele, Frota comentou com um amigo da casa: ela vai ver que a noite é curta mas a vara é grossa!

Fino, náo? Mas dei muita risada. Claro que na boca do Luiz Fernando Veríssimo ficaria mais elegante,mas a graça é a mesma!

Só sei querido leitor, que apesar de ontem à noite terem jogado uma imensa pedra no vidro do meu carro e ter quebrado tudo, de terem violentado minha privacidade e roubado meu toca CD, apesar do mundo ser deste jeito, com gente louca e persecutória, ainda assim vale o esforço de querer melhorar.

Se a gente achar que está dando pérolas aos porcos, seremos nós os porcos. Temos que fazer isso mesmo, produzir o melhor, fazer o melhor, como Os Normais, mesmo que a audiência seja muito menor que algumas porcarias. E se o SBT quer lutar pelos seus direitos, muito justo. Silvio Santos já experimentou de tudo na TV, é o maior símbolo da tv nacional, ele tem direito de fazer o que quer. E se a lei nao permite, vamos rever a lei.

Eu, de minha parte, quero melhorar. Não sei se vou conseguir, mas vou tentar. E faz parte deste novo processo admitir que como programa A Casa dos Artistas surte o efeito desejado e prende o telespectador. E ponto. E que Os Normais é muito divertido, quase perfeito.

Há gente que atira pedras, que persegue, que deseja e faz o mal e há gente que não enxerga um palmo além do próprio umbigo. Mas há gente, sim,que muda o mundo, que cria, que ousa, que renova. E esses, são os verdadeiros heróis que movem o mundo.

E, claro, hoje eu quero saber, se Supla vai mesmo ou não..


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